As oferendas não são exclusivas de uma ou outra religião, embora as religiões de Umbanda, Quimbanda, Candomblé e Afro-descendentes carreguem mais o rótulo deste rito mesmo que em teor pejorativo pela frequência e forma que seus frequentadores o fazem.
Uma oferenda é em si a materialização do nosso desejo frente ao divino, ou seja, desejo de agradecer a um ou mais deuses, desejo de fazer pedidos a um ou mais deuses, desejo de fazer a maldade a uma pessoa via um ou mais deuses, desejo de obter uma cura, etc.
O termo "Oferenda" pelo dicionário remete a ofertar, doar, dar, etc. Quando vamos ao cemitério levar flores ao túmulo de alguém isso é uma entrega! Trata-se da materialização do meu amor, consideração ou saudades que tenho por um determinado ente querido enterrado ali.
Por outro lado, se em uma religião de magia negra vamos a uma cova com flores pedir a maldade a um ser humano por convocação de seres do plano espiritual, esta mesma entrega de flores passa a ter uma conotação pejorativa. Em ambas as situações a oferenda de flores traduz a intencionalidade humana.
Se vamos a cachoeira entregar um padê para Oxum agradecendo uma benção alcançada, aqueles elementos assumem uma carga energética de agradecimento. Se vamos a cachoeira de Oxum pedir para que uma mulher engravide, os elementos ali utilizados traduzirão, se materializarão de forma que esta energia seja manipulada para este fim, usada para este fim, consumida para este fim.
Na Santa Ceia de uma igreja quando o padre ou pastor abençoa, cruza, benze ou ativa as propriedades do pão (falando que é o corpo de Cristo) e o vinho ou suco de uva (fazendo analogia de que é o sangue de Cristo), eles estão materializando naqueles elementos de forma que simbolizem os desejos de proteção e comunhão com cristo.
Quando se faz o orô para assentamento ou obrigação de Exu no Candomblé, a matança de um determinado bicho é a materialização da intenção de se fortalecer Exu. Quando um budista acende um incenso para seu Deus ou ancestral ele imagina, mentaliza, que aquela fumaça, aquele material sendo consumido pelo fogo transformando-se em uma fragrância (fumaça) agradável.
Quando católicos vão até o Santuário de Aparecida do Norte entregar peças de cera para pedir ou agradecer uma causa, eles estão materializando, atribuindo uma simbologia, um rito de agradecimento ou pedido de graça/benção/milagre.
Na época dos deuses gregos - romanos, a população sacrificava animais, organizavam entregas de frutas nos templos sagrados com intuito de traduzir, materializar suas intenções aos pés dos deuses para que estes ouvissem seus desejos.
Quando um evangélico faz um Jejum (de Ester, de Israel, etc) e se abdica dias de uma coisa que gosta muito ele também está fazendo uma oferenda a Deus, seja para agradecer uma causa ou pedir intercessão por ela.
Se fizermos uma consulta na bília, como em Gêneses 3, versículo 4, podemos observar que:
"Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma
oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras
crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se
enfureceu e o seu rosto se transtornou".
Em Ezequiel 46, versículos 5, 6 e 7, temos:
"A oferenda para o cordeiro será de um efá; para as ovelhas,
ela será deixada à sua escolha; quanto ao óleo ele oferecerá um hin por efá. No dia da lua nova, oferecerá um novilho sem defeito, seis
ovelhas, e um carneiro sem defeito. A oferenda para o carneiro será de um efá; para as ovelhas
será proporcional aos seus meios; quanto ao óleo, oferecerá um hin por efá."
Nota: EFA
ou cesto era uma medida judaica para grãos e às vezes para líquidos,
equivalente a cerca de 23 litros, segundo os livros bíblicos dos Juízes.
Em Ezequiel 46, versículos 11 e 12, temos:
"Por ocasião das festas e solenidades, a oferenda será de um
efá por touro e por cordeiro; para as ovelhas, será deixada à sua escolha; no
que toca ao óleo, oferecerá um hin por efá. Quando o príncipe quiser oferecer ao Senhor um holocausto
voluntário ou um sacrifício pacífico, abrir-se-lhe-á a porta que olha para o
oriente, e ele oferecerá seu holocausto e seu sacrifício pacífico como faz no
dia do sábado. Quando sair, fechar-se-á a porta imediatamente após ele".
Por que seria diferente quando um médium de Umbanda vai a praia para oferendar Yemanjá? É lógico que independente da religião, precisamos de uma consciência ecológica para não poluir os ambientes onde as oferendas acontecem. Não queremos entrar neste mérito, pois o texto foca a resposta da pergunta "qual a função de uma oferenda" e não as suas implicações morais.
O Brasil é um país laico, o que permite a manifestação livre da sua fé. Oferendar é um ato antigo, presente na bíblia e em outras religiões (inclusive as não Cristãs). Quando você acende uma vela para seu anjo de guarda, você está oferendando aquela luz para que seja utilizada a seu favor.
Hindus, Egípcios, Gregos, Orientais e outros povos utilizaram e utilizam entregas e oferendas. A oferenda parece ser inato do ser humano, pois antecede inclusive a alfabetização dos mesmos. Não importa qual seja a sua religião, fé ou desejo a ser materializado na entrega, o que importa é se ela vai lhe fazer bem na sua conexão com o divino. Então, concluindo, a função de uma oferenda em uma religião na opinião do autor, é materializar a intenção de uma pessoa e conectá-la com o seu divino.
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